SER PSICANALISTA
"Formar-se como psicanalista e exercer essa função exige entender o que quer a psicanálise."
-Selma Pato Vila
Construir-se como psicanalista e exercer essa profissão exige um conhecimento do que quer a Psicanálise como prática.
A Psicanálise é um método de tratamento que lida com sintomas, com o sofrimento humano, sofrimento psíquico, acolhendo a singularidade de cada pessoa.
É um método baseado na associação livre, na fala que acontece em relação, na relação de transferência. O(a) analista, a partir dessa fala, das intervenções, das interpretações, das pontuações e das construções, vai criando espaço para o paciente conseguir se descobrir, se dar conta do seu desejo, descobrir o caminho de onde se perdeu, descobrir partes de histórias que estavam esquecidas ou negadas.
É um método de tratamento clínico e é, também, um método de investigação, de procura. Investigação clínica e extra clínica e, por isso, Freud se interessou tanto pela cultura, pela religião, pela arte, pelas línguas.
É um novo saber que junta o método clínico e o de investigação. Como clínica, tem a herança do sigilo, da diagnóstica e da ética.
A Psicanálise não é uma religião, não é uma visão de mundo que pretende abarcar as discussões dos mais variados assuntos sob a sua ótica; é, sim, uma teoria crítica sobre a subjetividade na modernidade, crítica da nossa moralidade, das representações que fazemos da nossa sexualidade, crítica das nossas ilusões, crítica das representações sobre o nosso eu: é uma desmontagem do que nós pensamos sobre nós mesmos. Embora a Psicanálise tenha uma teoria, é, antes de tudo, um saber fazer, uma prática que leva os pacientes a um saber fazer com os seus sintomas, num enfrentamento dos seus sofrimentos, das suas ilusões...
A partir do que é e do que quer a Psicanálise, podemos entender a importância da formação de um(a) psicanalista!
Ele(a) deve, portanto, passar por um processo de enfrentamento individual que legitima sua posição frente ao outro. Daí a importância de sua formação – “Bildung” em alemão – isto é, ajustar as contas com suas próprias contradições para evitar uma tentativa de “doutrinamento” do paciente pelo(a) analista que não é capaz, de fato, de se manter em sua posição.
O(a) psicanalista deve buscar constantemente a erudição, cuja importância foi tão exaltada por Freud no processo de investigação extra clínica, mas, acima de tudo, ainda segundo Freud, fazer análise! Formação, análise e supervisão consistem no tripé de formação do(a) psicanalista e – ousamos dizer – no seu caminho como profissional para sempre, pois é a sua própria relação com o inconsciente, sob transferência, que levará o processo terapêutico dos seus pacientes até onde foi o seu.
Logo, entendemos que os conceitos não devem ter somente uma apropriação cognitiva; deve haver uma incorporação dos conceitos de tal forma que haja uma tradução deles na própria linguagem do(a) analista, para que possam se desdobrar no seu discurso e definir a sua posição no consultório.
Então, o(a) analista deve ler livros e deve se manter em constantes formações, mas é por seu próprio processo que pode repetir a experiência do outro lado.